12 de novembro de 2012

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     Memória. Ta aí uma coisa que nunca foi o meu forte.
     Sempre esqueço de datas importantes, e que irrita o meu namorado. Sempre esqueço do horário do dentista ou daquela prova marcada há semanas atrás. Sempre esqueço de tomar meu remédio antes de dormir e de lavar o rosto quando acordo. Sempre esqueço de dar ração pra todos os cachorros e de dar banho neles aos sábados.
     Sempre esqueço de dar felicitações de aniversário no facebook e também esqueço da data de aniversário de alguns. Esqueço de mandar aquele e-mail importante no trabalho e de fazer boletos. Esqueço de carregar meu celular e ele vive sem bateria. Esqueço também, que o notebook não pode descarregar totalmente, senão 'um dia vou me arrepender' de acordo com my love.
     Esqueço dos compromissos que prometi que ia com a mãe, e também esqueço de atualizar as planilhas pro pai. Esqueço de arrumar a impressora pra minha irmã.
     Mas o que mais me impressiona, não é o que eu esqueço sempre. É o que eu não consigo esquecer.
     Não sei se é só nessa mente maluca que habita em mim ou se todo mundo é assim, mas há lembranças que não se apagam. Há coisas que guardamos a tanto tempo, coisas simples, sem noção, muito menos significante que uma data de aniversário.
     Lembro de estar brincando na garagem de casa, com a Minnie, o Mickey e o Pato Donald, quando nos mudamos da casa de madeira pra casa nova, e tinha um palhaço em cima de uma moto que ficava andando pra lá e pra cá tocando uma música. O palhaço tinha roupa rosa, e tinha luzes na moto dele.
     Lembro de usar amarrações rosa no meu braço, pra impedir que eu colocasse minhas mãoszinhas na boca, de forma de não prejudicasse a cirurgia recente.
     Lembro do meu aniversário de 5 anos. Eu e minha prima vestimos roupas iguaiszinhas. Obriguei a todos os presentes a vestirem seus chapéus rosa com um solzinho amarelo, antes de começar o Parabéns. Lembro também, que uma outra prima tinha o Melocotom e não deixava eu brincar com ele. Lembro que as minhas bonecas, a Paula, a Luana e a Natália, estavam presentes. Mas a Paula estava de pijama. A Luana, vesguinha coitada, de maria-chiquinha e vestido roxo florido. A Natália, toda meiga, com um vestido salmão e cabelo setentinha. Lembro bem disso.
     Lembro de tirar fotos na garagem da casa da vó, com uma camisa de político, shorts florido, raider rosa no pé, e uma flor amarela pra fazer um charme.
     Lembro de quando eu e meu vizinho brigávamos. Eu era mais velha, e ele não me obedecia. Era mandona desde cedo. Brigávamos até o vô colocar a gente de castigo. Joelho na brita dói.
     Lembro de quando eu e meus primos quebramos a porteira que dava pra Lagoa, e fugimos, pro vô não pegar a gente. Mas ele achou e colocou um em cada banheiro, preso, de castigo.
     Bons tempos.
     Lembro de brincar de tomar banho de piscina com minhas primas. Meu pai só deixava colocar 10cm de água, porque eu podia me afogar. Elas riam de mim. E dão risada até hoje. Eu, claro, dou risada com elas.
     Lembro de ouvir um CD do Zezé di Camargo e Luciano, que minha mãe tinha, sempre quando eu ficava na piscina a tarde. Enquanto a mãe limpava a casa ouvindo aquilo, eu ouvia também.
     Mais tarde, quando eu ja era quase adulta com 7 anos, eu era a power ranger rosa. E a minha amiga era a amarela. Combatíamos monstros terríveis! Acho que vocês iriam morrer de medo deles. Mas já salvamos o mundo naquela época.


     Lembro de passar alguns domingos na casa da minha madrinha, ouvindo LPs de histórias junto com meus primos. Lembro também, que eu e a minha prima tínhamos fita cassete de história infantil que tinha um livro junto. E sempre que fazia um barulho tínhamos que virar a página pra continuar acompanhando a história. O meu era do Aladim.
     Lembro de tirar fotos com meu pai, no balanço que ele fez especialmente pra mim, numa árvore enorme que tinha perto de casa. Era domingo de manhã, com céu azul e inverno. E eu tava com uma calça amarela de moletom e um casaco azul e branco. O pai vestia uma camisa branca, com colete de lã bordô e calça jeans. Lembro do vento batendo na cara como se fosse agora.
     Lembro também, que quando fiz 8 anos, ganhei um jardim, uma bicicleta e um shorts pra usar na praia. O jardim era redondo, ficava do lado da casa, e tinha um monte de florzinha. Sempre cuidava. Mas quando as borboletas apareceram, desisti da ideia. É, faz parte. A bicicleta tinha rodinhas, por que ainda não conseguia andar sem. O dia em que meu pai tirou as rodinhas da bicicleta, lembro que tava com uma camiseta branca e um shorts de moletom mescla, cinza. Tava morrendo de medo. E lembro exatamente, como se estivesse vendo uma foto, da mão do meu pai soltando a bicicleta, e eu dando minhas primeiras pedaladas independentes.
     Era fã de Sandy e Junior. Tinha todos os discos Originais, fotos, revistas, livretos, adesivos, posters, tudo o que pode existir deles eu tinha! Meu pai sempre foi superprotetor, sempre me deu tudo o que eu pedia. Obvio, que sempre antes de pedir eu perguntava se era caro. Se a resposta era positiva, eu nem pedia. Nunca me estressei com esse tipo de coisa.
     Eu não podia molhar o ouvido, devido a duas infecções graves seguidas de cirurgias delicadas. Sendo assim, na praia, o máximo que podia entrar no mar era até o joelho. E acredite, é assim até hoje.
     Lembro de ficar assistindo Pokémon na casa da vó, almoçando na frente da TV. Depois, eu e meu primo brincávamos no sofá, correndo como se fosse uma lagoa cheia de jacarés. Fazíamos isso todos os dias. A vó me levava e me buscava na escola, de bicicleta, todos os dias, porque meus pais trabalhavam fora. Grande parte da minha infância foi na casa dela.
     Foi mais ou menos nessa época, em que quebrei o vidro da sala do Jardim, na escola, com um bolada. Fingi que tava passando mal, pra não levar bronca. E ainda comi um prato de sopa por isso. Mais ou menos nessa época, tinha um menino do bairro que queria bater em mim, sem motivo. Tive que me esconder no banheiro feminino e fingir também, uma dor no joelho, pra que as merendeiras cuidasse de mim, me livrando no espancamento. Nesse mesmo ano, dancei Ragatanga na escola. Quanto orgulho! Fui convidada pra dançar Olha Onda na Fenarreco também, vestida de pirata e tudo. Tava me achando a dançarina.
     Lembro que quando entrei na 6ª série, eu era apaixonada por um garoto. Gostava dele há uns 2 anos, e na 6ª série ele começou a estudar comigo. Quase morri. Eu sabia exatamente os dias da semana em que ele ia com determinada cor de camiseta. Eu ia também. Se ele ia com camiseta verde, eu ia também. Ele tinha uma verde, uma laranja, uma preta, uma branca e uma listrada. Quase nunca mudava.
     Lembro que na formatura da 8ª série, todas as meninas foram de vestido e salto. Eu era a única de calça jeans, blusa azul, cinto de rebites, e tênis. Mais macho impossível. Usava boné quase sempre. Só tirava pra ir na missa. Andava de skate com a rapaziada do bairro, até abrir o pulso e ser proibida disso. 
     Eu era considerada uma das melhores meninas no futebol da nossa escola. Sempre jogava nas aulas de Ed. Física. Foi por causa do futebol, nessa mesma época, que arrumei minha primeira e única briga, de rolar no barro e tudo! Paramos na diretoria, levamos bronca, e na hora de apertar a mão da inimiga, viramos a cara. Quanta rebeldia!
      Lembro de morrer de medo de mudar de escola no Ensino Médio. Não queria. Queria continuar ali, no meu canto, com os meus amigos. Mas mudar é preciso....
     E aí que eu me pergunto, como podemos lembrar de tanta coisa assim, e esquecer de outras importantes. Acho que pelo fato de ser criança ser muito mais simples, as lembranças também são. Assim como ser adulto é chato, e as obrigações nos fazem esquecer de tanto problema pra resolver.
     Sei que ainda haverão muitas lembranças, e ainda quero escrever um livro registrando tudo isso pra sempre, afinal, ainda estamos vivos...

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